BOXE CHINÊS (SANDA)
O Sanda (散打) – também conhecido como Wushu Sanda ou “boxe chinês” – é uma modalidade chinesa de luta para competição, mas que também pode ser usada para defesa pessoal, de forma muito eficiente. Geralmente a tradução do termo Sanda é dita como “luta livre”, no entanto, quando analisamos o significado dos dois caracteres chineses desse termo, temos que “散”(San) – pode significar “afastado, desconectado ou dispersado”, ao passo que “打”(da) pode significar “bater, golpear ou atingir”. Portanto, a sua tradução mais literal seria “bater ou golpear de forma afastada ou desconectada”. Se analisarmos melhor esse contexto, um praticante dessa modalidade fica livre para golpear o seu oponente com socos, chutes e com projeções. O lutador de Sanda tem grande liberdade de movimentos, na área de luta, para golpear (por isso que sua tradução mais comum pode ser “lutar livremente” ou “combate livre”). No passado, o termo Sanda teria sido originalmente escolhido para designar essa arte marcial, no entanto, quando o Governo chinês padronizou as artes marciais – essa modalidade de combate esportivo passou a ser chamada de Sanshou (散手) – cuja tradução seria “mãos desconectadas” ou ainda “mãos livres para lutar”. Posteriormente, o Sanshou voltou a ser chamado de Sanda (uma forma abreviada do termo “Sanshou Dui Da”).
A origem do Sanda está diretamente relacionada ao exército chinês, pois foi no contexto militar que essa forma de luta foi desenvolvida. As tropas passaram a estudar e praticar técnicas de luta oriundas do Kung Fu tradicional e também técnicas modernas de luta. Ou seja, no Sanda – além do praticante aprender a usar diversos tipos de socos e de chutes – ele também deverá aprender a aplicar projeções/quedas, rasteiras, além do uso de cotovelos e de joelhos (em alguns casos), como também a controlar a distância dos seus movimentos, durante todo o combate. O general Peng DeHuai fora diretamente designado pelo Governo chinês a comandar um trabalho para otimizar o treinamento dos soldados chineses – com a finalidade de melhorar o seu desempenho, durante os combates corpo-a-corpo nos campos de batalha. Para realizar tamanha tarefa, o general Peng reuniu especialistas de artes marciais chineses, médicos, educadores físicos e outros profissionais relacionados às atividades físicas e de saúde. Esse projeto visava criar uma nova forma de tornar os soldados chineses em experts de luta, com propósitos de guerra (não esportivos, a princípio). Desse modo, os critérios iniciais para desenvolver a gênese desse projeto era: i) simplicidade; ii) ser objetivo (direto) na luta; iii) eficiência contra adversários mais fortes.
Embora o Sanda tenha sido desenvolvido com o propósito dos militares o usarem para a guerra, posteriormente houve inúmeras adaptações nesse sistema (com o passar do tempo) que o tornaram mais esportivo. Vale salientar também que, o boxe chinês – embora tenha as suas raízes nas artes marciais clássicas chinesas de combate – essa mesma modalidade apresenta expressiva fundamentação científica moderna em sua base de conhecimentos e as suas aplicações de combate possuem diversos aspectos a serem compreendidos e absorvidos, incluindo combinações para a luta em pé (oriundas do Wushu tradicional), como também para combinações que envolvem técnicas de agarramentos e técnicas de projeções (oriundas do Shuai Jiao), e essa tendência de unir o antigo com o moderno foi naturalmente seguida pelos praticantes. Devido a motivos de restrições, para garantir segurança ao atleta, e também para tornar esse sistema, uma forma de luta menos violenta, o Sanda gradualmente foi sendo “moldado” até se tornar principalmente o que conhecemos hoje: uma arte marcial competitiva. O Sanda é um dos componentes de treinamento nas artes marciais chinesas, juntamente com os treinos de Formas (Taolus), e essa modalidade de luta tem um currículo padronizado próprio o qual foi desenvolvido pelo Governo – houve a criação de um currículo do Sanda militar voltado para a defesa pessoal das tropas e também a criação de um currículo do Sanda civil voltado para o foco esportivo.
A partir de 1979, o Sanshou (não era chamado de Sanda, nessa época) foi oficialmente associado ao Wushu, para ser integrado às competições – pelo Comitê Chinês de Esporte Nacionais. Antes desse marco histórico, a referida modalidade não tinha um currículo sistematizado de treinos, tampouco os praticantes usavam metodologias direcionadas para otimizar o ensino e a aprendizagem desses conhecimentos de técnicas de luta ou de regras. No início da década de 80 (no ano de 1982, especificamente) o Sanda teve as suas primeiras regras elaboradas para as competições e, esse esporte de combate – nessa época – continuou sendo trabalhado e desenvolvido dentro do ambiente escolar e também em universidades ligadas à educação física, além de acompanharem também a sua evolução exposta em ocasiões diversas de campeonatos. Em 1990, foi fundada a International Wushu Federation (IWUF) e, nesse mesmo ano, o sistema marcial Sanda tornou-se oficialmente esporte de combate contemporâneo para disputar competições após o comitê organizador dos XI Jogos Asiáticos o incluir como esporte oficial de competição.
O Sanda sendo um esporte de luta, este enfatiza o sistema de pontuação dos lutadores – diferentemente do foco trabalhado com o Sanda militar, o qual visa a defesa pessoal e a sobrevivência, utilizando as quatro categorias de luta classificadas pelos chineses: Ti (踢), Da (打), Shuai (摔), Na(拿). Para entender melhor, é preciso compreender que: “Ti” refere-se a qualquer forma de uso das pernas em uma luta (chutes, rasteiras, pisões e joelhadas), “Da” trata de qualquer forma de uso das mãos em uma luta (socos, dedos, palmas, cotoveladas e até uso da cabeça), “Shuai” refere-se a qualquer forma de agarrar o seu adversário para derrubá-lo/projetá-lo ao chão e “Na” trata de qualquer forma de agarrar e controlar o seu adversário, por meio de aplicações de torções nas articulações, estrangulamentos. Vale salientar que no Sanda competitivo, a categoria chinesa de luta “Na” não é permitida – logo, o praticante apenas deverá usar combinações de socos, chutes e quedas.
No passado, os lutadores de artes marciais chinesas lutavam sobre arenas elevadas (sem cordas ou grade nas laterais dessas arenas) denominadas Lei Tai (擂臺). A tradução da palavra LeiTai significa “plataforma de luta”, considerando que o caractere chinês “Lei” (擂) pode significar “pancada”, “golpe” enquanto o caractere chinês “Tai” (臺) pode significar “plataforma”. Atualmente, o Lei Tai utilizado nas competições de Sanda, pela IWUF, possui a área oficial de um tablado quadrado emborrachado com 64 m2 (8 m x 8 m) e ao redor desse tablado, existem peças de tatame cobertas com lona – enquanto que na década de 80, a arena original de luta era um ringue redondo com diâmetro de 9 metros. Para dominar bem o sistema de pontuação nas competições, é necessário que o praticante saiba as seguintes regras: i) Cada luta é composta de dois rounds de 2 minutos (adulto e juvenil), com 1 minuto de descanso entre os rounds;ii) Golpes na região genital e atrás da nuca do oponente não são permitidos e se, ainda assim, um lutador golpear três vezes nessas áreas, o mesmo poderá ser desclassificado;iii) Socos (em geral) valem 1 ponto;iv) Chutes no tronco e na cabeça valem 2 pontos;v) Quedas e arremessos valem 2 pontos, porém se o atleta que arremessou cair junto com o seu adversário, este obterá 1 ponto; vi) Para ter pontuação válida durante a execução de um golpe, o adversário que foi atingido precisará se mexer após receber a pancada (critério considerado pela eficiência da técnica executada);vii) Para auxiliar no trabalho das estratégias de luta com a distância, ter ciência de um ditado comum ao meio dos praticantes de Sanda – Yuan Ti, Jin Da, Tie Shen Shuai (Ou seja: “Se estiver longe, chute. Se estiver perto, soque. Se estiver mais perto ainda, derrube”).
No Brasil, tem-se a Confederação Brasileira de Kung Fu Wushu (CBKW) que trabalha em prol do desenvolvimento do Kung Fu na América do Sul, especialmente em nosso país – organizando e promovendo eventos e atividades voltadas para a prática e disseminação das artes marciais chinesas – dentre elas, o Sanda. Inclusive foi elaborado por diretores dessa Confederação, para os atletas e Escolas de Kung Fu do Brasil, um sistema oficial de graduação em Sanda (com nove níveis a serem conquistados pelos atletas desse esporte). A CBKW está filiada à IWUF e ambas realizam grandes eventos (nacionais e/ou internacionais) com o Wushu Sanda e diversos atletas dessa modalidade, de diversas nacionalidades competem regularmente. Em Brasília-DF, a nossa Escola – o Instituto Han de Cultura Chinesa – IHCC inseriu a modalidade de boxe chinês (Sanda) quando estava sob supervisão direta da AGTKF, do Sifu Richard Leutz. Atualmente, Da Shifu Marco Mourão transmite os seus conhecimentos adquiridos de Sanda. Portanto, qualquer pessoa interessada em obter mais esclarecimentos sobre o boxe chinês ensinado no IHCC, poderá fazer isso escrevendo para o nosso e-mail (institutohan@gmail.com). Para ligações ou envio de mensagens pelo Whatsapp, os interessados residentes em Brasília-DF deverão fazê-lo ao número (61) 99289-9933 ao passo que os interessados residentes em Curitiba-PR, poderão direcionar suas ligações e/ou mensagens ao número (41) 98432-1608.
O Sanda é uma modalidade chinesa esportiva de combate corpo-a-corpo, com grande diversidade de ataques, de defesas e de projeções/quedas.